terça-feira, 20 de outubro de 2009

Pensamentos

A política é o compromisso permanente de cuidar das pessoas. É o êxodo. É o abandono das acomodações e a partida em busca do bem.

É arte porque liberta, porque fascina.

É ciência porque requer preparo.

Não se improvisa um estadista. Forma-se com o tempo, lapida-se com a experiência humana da tessitura social.
Somos animais sociais.

Desenvolvemo-nos nas trocas de impressões e sonhos. Caminhamos juntos porque não há vagão isolado neste quinhão a que chamamos sociedade.

A política é a mais elevada forma de caridade, dizia Santo Agostinho. É a garantia real da liberdade, afimava Kant, o filósofo do idealismo. É o trabalho em prol dos direitos do homem, da democracia e da paz, propunha Bobbio. Ainda ele: “É com o nascimento do Estado de direito que ocorre a passagem final do ponto de vista do príncipe para o ponto de vista dos cidadãos”.
Cidadãos. Nós todos! Origens, gêneros, classes sociais, ideologias diferentes. Não importam as nossas margens – importa a nossa essência. Fazemos parte da essência humana e não há política correta sem que a dignidade da pessoa humana seja o ponto central. É nesse socialismo que acredito. O socialismo democrático.
Ingressei na política inspirado pelo humanismo integral de Jacques Maritain:
“O homem do humanismo cristão sabe que a vida política aspira a um bem comum superior a uma mera coleção de bens individuais (...) que a obra comum deve tender, sobretudo, a melhorar a vida humana mesma, a fazer possível que todos vivam na terra como homens livres e gozem dos frutos da cultura e do espírito... aprecia a liberdade como algo que há de ser merecedor; compreende a igualdade essencial que há entre ele e os outros homens e a manifesta no respeito e na fraternidade; e vê na justiça a força de conservação da comunidade política e o requisito prévio que levando aos não iguais a igualdade, torna possível que nasça a fraternidade cívica"...

É de Anisio Teixeira, feito secretário de educação da Bahia por Otávio Mangabeira, irmão de João Mangabeira, a assertiva:

"Numa democracia, nenhuma obra supera a da educação. Haverá, talvez, outras aparentemente mais urgentes ou imediatas, mas estas mesmas pressupõem, se estivermos numa democracia, a educação. Todas as demais funções do estado democrático pressupõem a educação. Somente esta não é conseqüência da democracia, mas a sua base, o seu fundamento, a condição mesma para a sua existência."

Amigos, o socialismo crê na heterogeneidade do processo educativo. Não há ninguém burro. As inteligências são múltiplas. Mas não se pode desenvolvê-las sem as condições adequadas... a semente será sempre uma árvore em potência, dizia Aristóteles. É como a gravidez de um futuro, de Clarice Lispector. A escritora das epifanias. A educação é a epifania da sociedade hodierna. Cuidemos do broto para que a vida nos dê flor e fruto, como diz a canção.

Quero voltar ao início: a política é o compromisso permanente de cuidar das pessoas. Então ela não é uma ação egoica, tampouco um projeto de poder pessoal. Cuidar das pessoas permanentemente tem de ser a nossa obstinação. A partir desse alicerce, surgem nossos princípios, projetos e ações.
Na leitura , nos embates filosóficos e, sobretudo na poética cotidiana, aprendi a cuidar das pessoas. Aprendi a ter coragem, porque sem ela as outras virtudes se intimidam. Tenho coragem de lutar por aquilo em que acredito. Tenho coragem de ser sincero. Podem esperar isso de mim. Certamente errarei muitas vezes, mas não por covardia ou hipocrisia. Digo o que penso e luto para convencer as outras pessoas. Mas mudo de opinião por saber que a dialética movimenta a ação correta. Erramos. Acertamos. Vivemos. Que os nossos erros, entretanto, não sejam essenciais. Estes eu abomino, quais sejam: a ausência de ética e de respeito; a perversidade contra o outro, mesmo os adversários. Combatamos o bom combate no campo das idéias. Nada de subsolos. Nada de submundos.
É por isso que estamos aqui. Para um recomeço. Para contemplar uma outra paisagem. A paisagem de um Brasil mais justo. A paisagem da fraternidade socializada, da competência a serviço do bem. Que a inteligência humana ateste que somos capazes de evoluir. E só evoluiremos, de fato, quando a pessoa humana toda e todas as pessoas humanas fizerem parte dessa mesma paisagem.

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