segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dossiê K - corrupção e truculência


Poderia muito bem ser um filme de Velho-Oeste, desses que fala de terras onde não há Lei; mas, infelizmente, a história retratada em "Dossiê K" se passa no Brasil do século XXI, mais especificamente em Goiás - embora reflita o que ocorre em todo o país, inclusive nos grandes centros.

A temática? A quase impossibilidade de se fazer um jornalismo independente do Estado; ameaças de morte; e a estreita ligação entre Estado, Grande Imprensa e corrupção, mostrando que a mídia brasileira nutre-se e cala-se à custa do erário.

A diferença? Uma rádio - uma! - que não aceita os rios de dinheiro público que as autoridades querem despejar nos cofres da emissora em troca da liberdade de imprensa.

"Dossiê K", livro escrito pelo jornalista Jorge Kajuru, retrata as perseguições sofridas pelo profissional de imprensa, que, ao não vender o seu silêncio para a corrupção, passou a ser perseguido pelo então governador de Goiás Marconi Perillo - hoje, vice-presidente do Senado brasileiro (um alô para quem acha que o FORA SARNEY vai resolver o problema).

É mostrada uma face ditatorial do governo Fernando Henrique Cardoso - que permitia que suas agências fechassem, diversas vezes, a Rádio K, emissora de Kajuru que, por todos os lados, Marconi Perillo tentou calar.

Complementando o que Luís Nassif defende em "O caso Veja", "Dossiê K" mostra como a Grande Mídia brasileira, quando critica, tem por objetivo atrair o alvo das críticas para sua lista de anunciantes. Nassif mostra isto com relação a Daniel Dantas e Veja; Kajuru faz o mesmo em relação a Marconi Perillo e as revistas IstoÉ e Veja.

Conforme este livro (que fora proibido pela Justiça de Goiás), o nepotismo e o loteamento de cargos, a intimidação de familiares de jornalistas, a corrupção desenfreada nas diversas secretarias de estado, o Caixa 2 com dinheiro público e a incapacidade de governar com uma - repito, uma! - emissora de rádio independente, fazem do psdbista Marconi Perillo um verdadeiro coronel.

Enquanto todas as outras emissoras nadavam na estabilidade do dinheiro público garantido ao final do mês, a rádio de Kajuru, que não era uma empresa mas um ideal... esta rádio, que vivia sendo fechada pelos tucanos Perillo e FHC, conseguiu sobreviver ao custo de enormes dívidas, perda de quase todos os anunciantes - mas principalmente - a perda do casamento, da saúde e da vida particular de um jornalista que o dinheiro e o poder não conseguiram comprar.

Como afirma Fábio Del Ducca: "A trajetória narrada compreende o período entre janeiro de 1998 e setembro de 2002. Todas as denúncias transcritas no livro são apresentadas juntamente com documentos; uma tentativa de demonstrar a veracidade dos fatos revelados pelas reportagens. A linha editorial é sustentada por quatro preocupações:
1 defender a midia livre;
2 recusar dinheiro público, aceitando anúncios apenas da iniciativa privada;
3 estabelecer relação de cumplicidade com o ouvinte;
4 implantar o jornalismo investigativo no Estado.




O livro Dossiê K você baixa clicando aqui; São 270 páginas, porém com muitas fotos e letra grande, dá pra ler rapidão.

ps: O jornalista sofreu 116 processos por suas reportagens-denúncia - não perdeu nenhuma causa. Em entrevista a João Gordo, Kajuru afirma que, no total, a Rádio K fora fechada 11 vezes pelo governo FHC. Liberdade de Imprensa? Liberdade de Empresa!

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